O céu é mesmo indiferente ao que cavamos por aqui,
nossas ruínas.
Sorri com o mesmo sol, medonho, para as vidas imundas e sujas e famintas,
as crianças em zona de guerra,
na fome, em fila de hospitais,
à espera
ou cuspidas para as ruas, enjeitadas,
para fora do comércio
as crianças que atravessam as noites de São Paulo
tossindo, fumando,
sem paz
Mudamos tão pouco e já desistimos de novo
Demos voz às crianças e não as escutamos
Novamente vamos atirá-las a apostilas
Novamente elas se submeterão à indomável febre do progresso
Novamente elas serão apenas etapa de preparação
para o nada
portanto só espera
para o nunca
atravessando as noites de São Paulo
tossindo, fumando
doendo no coração do país
Quando verei o sol
sem esse desconsolo?
(São Paulo, primeiro de setembro de 2018)
(Stockbyte/Stockbyte/Getty Images) |
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