sábado, 11 de agosto de 2012

# onze de agosto

Nada mais apropriado a um aniversário do que pensar em mudanças.

Uma amiga me dizia que o aniversário é o ano novo pessoal da gente. É verdade. Não chego a dividir a vida em onzes-de-agosto, mas sem dúvida alguma é nesta data que faço meu balanço geral, é nela que passo a régua na vida e medito mais a fundo sobre como vêm sendo as coisas.

Como têm sido estes anos, como tem sido esta vida, como tem sido - palavra mal vista em tempos de amor à novidade a qualquer preço - envelhecer?

Bem, pelo menos entre agosto de 2011 e hoje, muita mudança decisiva. Neste período, eu: batalhei para entrar no mestrado, e entrei; escrevi e reescrevi muito texto, e fui agraciado com uma publicação na revista Celuzlose; lutei para conseguir me mudar para um apartamento que pudesse ser meu e tivesse boa localização, e consegui; esperei amorosa e ansiosamente pelo nascimento de minha segunda filha - Maria -, e vivi um dos momentos mais intenso de toda a minha vida, acompanhando o parto da Lê dentro de uma banheira, ao lado de outras duas mulheres queridas - Maíra Duarte e Betina Bittar - num rito ancestral de valor inexprimível: um rito à fertilidade, à luta e à luz, palavras imensamente femininas.

Entre um agosto e outro muita coisa aconteceu. Dorinha cresceu e aprontou bastante. Quebrou coisas e fez coisas novas. Eu e Lê conhecemos filmes e mais filmes: bobagens de televisão, que têm lá obviamente suas qualidades, e delícias do grande cinema, como Bergman e Beto Brant. Conhecemos novos restaurantes, bebemos vinho juntos, passeamos de mãos dadas, viajamos, cantamos, dançamos e pudemos brigar à vontade e também, à vontade, fazer as pazes.

Entre um agosto e outro, conheci Mia Couto e mudei minha visão sobre sua literatura, num verdadeiro processo de renovação estética. Li Saramago, Franz Fanon, Manuel Ferreira, Edward Said, Antonio Candido e o novo livro do meu querido amigo Del Candeias: Dois de novembro. Não um "livro de amigo", um livro de escritor de verdade.

Ali em cima a fotinho de nosso último passeio pelo Parque da Aclimação, que fica ao lado de onde moramos por mais de três anos, uma incrível ilha de verdura e de paz em meio à cidade opressiva. Já éramos quatro e estávamos, todos, grávidos da mudança de endereço.

Estamos aqui, agrupados em outro espaço, com a largada para o meu mestrado, os momentos mágicos da primeira infância da Maria, as contações de histórias e as peças que aguardam pela Lê, as histórias que a Dora apronta, as que ela escuta e as que ela, cada vez mais, por conta própria, conta. Maria vai sacando tudo isso, entrando na história, para mudar tudo de uma vez por todas. Bebês de dois meses (ela completou ontem) têm aquela cara de sábio ancião. Talvez guardem segredos apreendidos com eles e apenas revelados pelo olhar. Segredos que depois são rapidamente dissimulados, e viram palavras, invenções, ficções, peças, filmes, livros. Mentiras sinceras, absolutamente verdadeiras.

Obviamente e por razões variadas, neste meio tempo tive meus grilos, neuras, dúvidas, imensos medos, pesadelos de queda e de morte, infelizmente bem característicos de todos os meus passos.

Dei aquela piscadela pra eles.

Agora, a esta altura, quererem me pegar?


# Vila Pompeia, São Paulo, agosto de 2012


4 comentários:

  1. Parabéns Adriano, muitos outros onze de agosto virão, viva cada um deles com essa docilidade que lhe é característica. Abraço forte.
    Jacó

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  2. Adriano!
    Parabéns pelas conquistas!!
    Abraços

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  3. Adriano, parabéns......
    Sem palavras para lhe falar o quanto esta linda suas palavras!!!!

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