segunda-feira, 17 de maio de 2021

# processo


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por que continuar
se ao final
certamente
não haverá
recompensa?

não haverá paz
nem pão
nem palavra

todos os dias buscando motivo
para prosseguir
buscando prosseguir para 
poder 
continuar
todos os dias o credo rançoso
a brisa antiga
infeliz
lembrança de potes vazios
seus sonhos 
a infância
escondida nos gritos contidos
do dia

nunca acenderão a luz
para podermos ver
o que seríamos
caso não fôssemos
exatamente isso
meta, busca, sequência
ou talvez espera
do que nunca teve nome
e todo mundo parece sentir
que conhece

ao final de uma, outra 
era 
afugentando o passado 
que retorna com insistência
engolindo estes dias 
que caminham cegos para o futuro:
oco sentido escuro
horizonte para além do palpável
sempre o amanhã no gosto
da espera, no rosto
da quimera

ao final de uma, outra surra
conta atrasada, acordar cedo
o fim de semana enfim o fim da linha
as férias enfim o fim
a aposentadoria o fim
a morte o fim do expediente
a liberdade para o caos sem palavras
depois e ainda e enquanto e sempre

todos os dias se emendando para um apagar o outro
todos os inícios se juntando para que não haja início
todas as variações se sucedendo em vertigem de modo que não haja
vertigem
a linguagem está morta
sepultem-nos, árvores
ignorem-nos, rios
esqueçam-nos, nuvens

o dia começa a entrar pela janela e novamente não dormi


# São Paulo, 17 de maio de 2021.


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