quinta-feira, 27 de junho de 2019

# somos sonhos


Les souffrnce du jeune Kafka, de François Schuiten 

Eu sonhei (de verdade) que acordava às quatro da manhã, metia meias de pares trocados, calçava sapatos, andava de shorts e escovava os dentes pelas ruas, desviando-me dos transeuntes.
Entrei numa escola, de repente me encontrava em uma sala de aula, o professor era eu, já sabia, minhas roupas eram outras, usava paletó, calças, sapatos de cadarços, um dia quente, "Acordei", pensei, e li o verso do Leminski aos alunos: - "Acordei bemol" - , mas fui interrompido por minha própria voz, que discordava do poema, lido até o fim: - "sol havia /só não havia sentido." Como assim! - Proclamei: - Mesmo que esse mundo possa ser chamado um pesadelo, não se pode dizer que não tenha sentido. Tem.
Enfim acordei.
Era cedo, eu tinha ainda algumas horas de sono pela frente. Pensei:
"Nunca gostei de chamar a noite de dia, naquela frase que também parece um pesadelo 'Amanhã já é hoje.'" 
Não é. 
A noite é ontem.
A noite é enquanto eu estiver dormindo, enquanto eu não acordar. 
Enquanto eu estiver aqui dentro do sonho (que não, não é de verdade - por que sempre a verdade?)
continuará sendo noite.

# São Paulo, 27 de junho de 2019

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