Foto: Ueslei Marcelino/Reuters |
agosto se arrasta e não me mata
alcanço o fim do mês e ainda estou vivo
sangue correndo
tomo sol e café
beijo as crianças
jornal, futebol, felinos, frutas
o amor
a cidade agradece o fim do mês
que não foi muito pior do que os outros
durou
pelas calçadas pendurado no tempo
a espera em farrapos
a espera em farrapos
- Acabou
o jornaleiro suspira com a eliminação de mais um mês
na folhinha
um mês a menos
um termo do tempo consumido
para fechamentos, quitações, desastres
acúmulos, enterros
mas agosto termina e a cidade não pasma
espera, apanha nas pernas dos pretos
no ônibus cheio, no trânsito, na carestia
no riso do facínora
no incêndio da floresta
a espera em fuligem na cidade noturna
"São quinze horas em São Paulo",
segunda-feira, dia 19
"São quinze horas em São Paulo",
segunda-feira, dia 19
agosto consumido
quinhentos dias de prisão de Luís Inácio
da Silva
“O preso político mais importante do mundo”
registrou Noam Chomsky
“Relógio da morte para a Amazônia está
correndo”
registrou The Economist
sem crônica de aniversariante
me despeço
sem ressentimento
desse mês
# São Paulo, 31 de agosto de 2019
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